Associação Recreativa
Clube Balteiro Jovem

Documentário “A Associação Recreativa Clube Balteiro Jovem”, 2023.

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“Nós levávamos muitos atletas. Para os Jogos Juvenis chegámos a levar à volta de oitenta atletas. Como tínhamos esse sucesso todo, deixou de ser local, só do empreendimento, e passou a ser da freguesia. Eu pensei assim vamos expandir isto à freguesia, porque começaram a vir crianças e pais a perguntar olhe, o meu filho pode vir para aqui?”

José Moreira, 2022

A história do Clube Balteiro Jovem

A Associação Recreativa Clube Balteiro Jovem foi formalmente criada em abril de 2015, por iniciativa de José Moreira. José Moreira é residente no Bairro do Balteiro, desde o ano em que este foi construído, em 1967. Após um período em que esteve emigrado, José Moreira regressou em 2010, e constatou que havia muitas crianças e jovens que andavam pelo bairro a brincar.

Essas crianças gostavam muito de futebol e era comum juntarem-se duas a três dezenas de jovens para esta prática desportiva durante longas horas diárias. No entanto, os jogos eram geralmente espontâneos ou muito pouco organizados, o que resultava em frequentes desentendimentos entre as crianças, envolvendo por vezes até as próprias famílias. José Moreira sentia que deveria fazer alguma coisa por estes miúdos que, segundo o próprio, andavam muito desacompanhados pelo bairro. Foi então que, por brincadeira, começou a acompanhar os jovens e a ajudá-los na organização de jogos de futebol de rua, que aconteciam num terreno descampado do bairro, localizado em frente à atual sede da Associação.

O espaço da atual sede do Balteiro Jovem localiza-se numa cave de um dos blocos do empreendimento Balteiro III, e era propriedade da Gaiurb. Na altura, em meados de 2011, o espaço estava fechado e inutilizado. Os jovens, juntamente com José Moreira, insistiam com Cláudia Santos Silva, à data, Técnica da Ação Social do Balteiro, para que o espaço fosse aberto e disponibilizado à comunidade para a prática de atividade física. Cláudia Santos Silva oficializou o pedido junto da administração da Gaiurb e a resposta foi favorável, na condição de haver uma figura, maior de idade, que fosse responsável pelo espaço.

Sendo José Moreira, uma figura estimada e consensual entre os jovens, foi o escolhido para assumir a responsabilidade. A Gaiurb cedeu o espaço na condição de que José Moreira se comprometesse a fundar uma coletividade no empreendimento, ao serviço da juventude. Dava-se assim então início ao longo processo de criação da Associação Recreativa Clube Balteiro Jovem.

O espaço foi cedido em 2011, e a comunidade tratou da sua limpeza e recuperação. Parte do espaço servia de ginásio e uma pequena parte servia de sede da Associação. As obras e instalação de equipamentos foram sendo realizadas com os vários contributos da comunidade e com o apoio da Junta de Freguesia, na cedência de algum material de construção. Criadas as condições, José Moreira passou a conseguir reunir com mais facilidade os jovens para a prática desportiva, chegando a envolver aproximadamente quarenta crianças. Para além dos jogos que faziam no descampado localizado em frente à sede da Associação, a partir de 2012, começaram também a participar em torneios amadores, a convite da Freguesia de Vilar de Andorinho, da Gaiurb e da Autarquia.

A participação nos torneios era apoiada pela Junta de Freguesia, que cedia à coletividade uma carrinha e um motorista para transportar as crianças, apoiando também na alimentação. José Moreira e a sua equipa técnica viajavam sempre junto com as crianças e ficavam responsáveis por elas. Entretanto, a participação nos torneios foi-se tornando um caso sério, com as equipas do Bairro do Balteiro a somarem muitas vitórias nos torneios em que iam participando, na zona de Vila Nova Gaia.

Entretanto, em 2015, a Gaiurb e a Autarquia realizaram a inauguração formal da coletividade, tendo contado com a presença do Presidente da Câmara, Eduardo Vítor Rodrigues. É evidente a importância de José Moreira neste processo. Um membro da comunidade que manifesta uma elevada e contínua disponibilidade, paixão, persistência e resiliência em prol da coletividade.
Na sede e ginásio da Associação estão expostos inúmeros troféus, exibidos com orgulho. Alguns dos jovens jogadores do Balteiro Jovem têm também tido o reconhecimento do seu valor, através da transferência para clubes de referência, como o Futebol Clube do Porto. O sucesso desportivo e comunitário da Associação começou a chamar a atenção de crianças, jovens e encarregados de educação fora do bairro:

“Nós levávamos muitos atletas. Para os Jogos Juvenis chegámos a levar à volta de oitenta atletas. Como tínhamos esse sucesso todo, deixou de ser local, só do empreendimento, e passou a ser da freguesia. Eu pensei assim vamos expandir isto à freguesia, porque começaram a vir crianças e pais a perguntar olhe, o meu filho pode vir para aqui?” (José Moreira, 2022)

A adesão da comunidade, que já passava as fronteiras do próprio Bairro do Balteiro, levou a que fossem reivindicadas melhores condições para a prática do futebol. O desejo da comunidade concretizou-se em setembro de 2017, com a inauguração de um novo recinto desportivo, um campo de futebol de sete, construído com o apoio da Câmara Municipal de Vila Nova de Gaia. Para o sucesso do campo foi também fundamental a implementação de regras de utilização do espaço, aplicadas desde a sua fundação. As regras aplicam-se também no comportamento dos jovens, dentro e fora do campo. Há uma preocupação permanente em educar e orientar os jovens para uma convivência saudável e espírito de grupo.

* Texto adaptado a partir do artigo científico: Nuno Martins, Daniel Brandão, Leonor Guimarães, Eliana Penedos-Santiago, Emílio Brandão. In Press. «A importância do Design de Comunicação no processo de disseminação de práticas comunitárias em bairros sociais: o Balteiro». Comunicação e Sociedade, 43.

O Bairro do Balteiro

No concelho de Vila Nova de Gaia há um total de 35 empreendimentos de habitação social, onde se inclui o Bairro do Balteiro, localizado na freguesia de Vilar de Andorinho. Este bairro, juntamente com o Bairro de Quebrantões, na freguesia de Oliveira do Douro, foi construído na década de 1960, pelo Município de Vila Nova de Gaia, numa resposta de emergência às vítimas de desalojamento, provocadas pelas cheias do Rio Douro em 1961/62. As casas foram atribuídas pela Câmara às famílias desalojadas apenas em 1967. Estes dois empreendimentos foram a primeira resposta habitacional deste Município no que respeita à habitação social. O Bairro de Balteiro foi inicialmente edificado com dois blocos de 14 casas cada.

Entretanto, ao longo dos seus mais de 50 anos de história, o Bairro do Balteiro registou momentos de ampliação e renovação, com a construção de novos blocos, nomeadamente os designados Balteiro II (em 1987) e Balteiro III (em 1992). Refira-se também que destes novos blocos que foram construídos, cerca de vinte e uma habitações não foram disponibilizadas para habitação social, sendo de propriedade privada, havendo, por isso, habitantes do bairro não abrangidos pelos programas de apoio social do Município.

Entre os anos de 1990 e a primeira década de 2000, o Bairro do Balteiro sofreu fortes consequências relacionadas com o flagelo do tráfico e consumo de droga, tendo sido, nesse período, alvo de várias intervenções policiais e chegando mesmo a ser considerado um dos bairros mais problemáticos do município. O problema foi sendo ultrapassado devido sobretudo ao esforço da autarquia e da Junta de Freguesia de Vilar de Andorinho, através de uma forte intervenção e apoio social.

Para este sucesso, também contribui o apoio realizado ao nível das infraestruturas. Na primeira década dos anos 2000, assistiu-se a uma significativa reabilitação do parque habitacional do município. No Bairro do Balteiro destacam-se as intervenções realizadas no ano de 2003, nas fachadas e coberturas dos empreendimentos; entre 2009 e 2010, na recuperação interior das habitações; e em janeiro de 2004, os dois mais antigos blocos habitacionais (construídos à data da fundação do bairro, em 1967), em elevada degradação, foram demolidos, sendo as famílias realojadas em alguns dos sete blocos do Balteiro, que entretanto tinham sido recuperados, ou realojadas em outras urbanizações sociais.

Estas ações, bem como a adoção de políticas de intervenção social e comunitária, ajudaram à melhoria da qualidade de vida da população e a uma gradual harmonização social no Balteiro.